Farmacodermia: O Que É e Seus Aspectos Clínicos Essenciais

Farmacodermia: Entendendo suas Causas e Aspectos Clínicos

A farmacodermia refere-se a manifestações cutâneas resultantes do uso de medicamentos, representando reações adversas que podem ocorrer em resposta a fármacos comuns. Este fenômeno é de grande importância na dermatologia, uma vez que pode levar a condições graves e até mesmo à morte.

Quais são as Causas da Farmacodermia?

Em mais de 75% dos casos, as farmacodermias não são mediadas por reações alérgicas do tipo IgE, mas sim por mecanismos imunes complexos. Os sintomas podem aparecer entre 4 a 28 dias após o início do tratamento com o medicamento. As condições mais notáveis incluem:

  • Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ)
  • Necrólise Epidérmica Tóxica (NET)
  • Síndrome DRESS

Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e Necrólise Epidérmica Tóxica (NET)

A SSJ e a NET são consideradas variantes de uma mesma doença bolhosa aguda reativa. Ambas apresentam alta mortalidade e comprometem as membranas mucosas em mais de 90% dos pacientes, geralmente em múltiplos locais, como ocular, oral e genital. Aproximadamente 20% dos casos ocorrem em crianças.

Essas condições se manifestam com máculas purpúricas que podem aparecer isoladamente ou coalescer, principalmente na face e orelhas. Medicamentos como carbamazepina e fluoxetina estão frequentemente associados ao desenvolvimento da SSJ.

Fisiopatologia

A SSJ e a NET são reações de hipersensibilidade do tipo IV, onde os linfócitos T citotóxicos atacam os epitélios, levando à apoptose dos queratinócitos.

Diferenças entre SSJ e NET

A distinção entre SSJ e NET é realizada com base na porcentagem da superfície corporal afetada:

  • SSJ: menos de 10% da superfície corporal comprometida, com mortalidade de 9%.
  • Sobreposição SSJ/NET: entre 10% e 30% da superfície corporal afetada, com mortalidade de 29%.
  • NET: mais de 30% da superfície corporal comprometida, com mortalidade de 48%.

Quadro Clínico

O quadro clínico da SSJ e da NET frequentemente começa com sintomas prodrômicos, como febre, mal-estar, anorexia, faringite e cefaleia. A pele torna-se sensível ao toque, apresentando dores desproporcionais em relação às lesões cutâneas. O exantema é tipicamente maculopapular e eritematoso, com lesões simétricas que se iniciam na face e no tórax, poupando geralmente o couro cabeludo, mas afetando palmas e plantas.

As lesões começam como máculas eritematosas coalescentes, evoluindo para bolhas que, ao coalescerem, resultam em áreas extensas de pele exposta, que se assemelham a queimaduras graves. O sinal de Nikolsky pode ser positivo, indicando a fragilidade da pele.

A fase aguda da SSJ e da NET dura entre 8 a 12 dias, enquanto a reepitelização pode levar de 2 a 4 semanas. Complicações podem afetar órgãos como pulmões e sistemas gastrointestinal e geniturinário.

Tratamento

O tratamento da SSJ e da NET envolve a suspensão imediata do medicamento responsável, especialmente se não houver um agente desencadeante claramente identificado. O suporte em unidade de terapia intensiva ou em unidade de queimados é essencial, com monitoramento rigoroso da volemia, temperatura e suporte nutricional.

A remoção de tecido necrótico e o uso de soluções antissépticas são fundamentais. A ciclosporina (3 a 5 mg/kg/dia) deve ser iniciada preferencialmente nas primeiras 24 a 48 horas do quadro. O uso de corticosteroides é controverso e, se necessário, deve ser iniciado nas primeiras 48 horas e mantido por no máximo 5 dias. A consulta com oftalmologia é crucial devido ao alto risco de sinéquias.

Síndrome DRESS

A Síndrome DRESS é caracterizada por sua tríade de sintomas: D-Drogas, R-Rash, E-Eosinofilia e SS-Sintomas sistêmicos. O início pode ocorrer entre 3 semanas a 3 meses após a introdução do fármaco.

Os medicamentos frequentemente implicados incluem antiepilépticos aromáticos, como fenitoína, carbamazepina e fenobarbital, além de sulfonamidas. O rash pode apresentar-se como um exantema morbiliforme ou maculopapular, podendo evoluir para vesículas e bolhas sem necrose. O sinal de Nikolsky, nesse caso, está ausente.

Tratamento da Síndrome DRESS

O tratamento consiste na interrupção imediata do medicamento causador. Corticosteroides podem ser utilizados de forma tópica ou sistêmica, dependendo da gravidade do quadro. Tratamentos de segunda linha incluem a ciclosporina e imunoglobulina, além do ganciclovir em casos de reativação viral do HHV-6.

Conclusão

As farmacodermias representam um desafio significativo na prática clínica, exigindo um reconhecimento precoce e uma abordagem terapêutica adequada para minimizar complicações e melhorar os resultados para os pacientes. Um conhecimento profundo sobre essas reações é essencial para todos os profissionais de saúde envolvidos no cuidado dermatológico.


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