Novas Diretrizes para o Rastreamento do Câncer de Mama no Brasil
Mais de 680 mil mulheres com menos de 50 anos são diagnosticadas anualmente com câncer de mama em todo o mundo. O Outubro Rosa, uma campanha mundial de conscientização sobre a prevenção e o tratamento da doença, ganha novo impulso no Brasil com a recente decisão do Ministério da Saúde de ampliar a faixa etária para o rastreamento mamográfico no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de agora, mulheres sem histórico pessoal ou familiar de câncer poderão realizar mamografias a partir dos 40 anos.
A divulgação dessa decisão, feita às vésperas do Outubro Rosa, reflete uma preocupação crescente com o aumento dos casos de câncer de mama entre mulheres mais jovens. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é de que surjam cerca de 73 mil novos diagnósticos anualmente no país. O câncer de mama representa cerca de 30% dos casos de câncer entre as mulheres brasileiras e continua sendo o tipo mais comum em mais de 157 países, excluindo os tumores de pele não melanoma.
Aumento da Incidência e Novas Diretrizes
O Ministério da Saúde destaca que 22,6% dos diagnósticos ocorrem em mulheres entre 40 e 49 anos, uma faixa etária que agora terá rastreamento sistemático na rede pública. Globalmente, o câncer de mama permanece como o mais comum entre as mulheres e é a principal causa de morte por neoplasias nesse grupo. Dados da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que cerca de 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas com a doença em 2022, resultando em 670 mil mortes no mesmo ano. Projeções indicam que até 2050, o número de novos casos anuais pode alcançar 3,2 milhões, com 1,1 milhão de óbitos em todo o mundo.
Segundo o Global Cancer Observatory, aproximadamente 30% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm menos de 50 anos, uma proporção que vem crescendo, especialmente em países de renda média e baixa, onde o acesso ao rastreamento é mais limitado. Para o cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Rodrigo Nascimento Pinheiro, a mudança nas diretrizes brasileiras é um avanço necessário diante da realidade epidemiológica do país. Ele ressalta a importância do rastreamento em idades mais jovens para aumentar as chances de diagnóstico precoce e tratamentos eficazes.
Implementação do Novo Rastreio
A nova diretriz do Ministério da Saúde não apenas amplia a faixa etária do rastreamento, mas também estabelece uma linha de cuidado específica para garantir o acesso à mamografia, mesmo em mulheres assintomáticas. Além disso, foi introduzido o modelo de “rastreamento sob demanda”, onde profissionais de saúde poderão informar as pacientes sobre os benefícios e limitações do exame, promovendo decisões compartilhadas.
O governo planeja expandir a rede de atendimento, incluindo o reforço das carretas de saúde da mulher, capacitação de equipes, incorporação de novos medicamentos e melhorias na qualificação dos equipamentos de mamografia. O objetivo é reduzir a mortalidade e aumentar a sobrevida, ampliando o número de diagnósticos precoces e garantindo que mais mulheres iniciem o tratamento em estágios iniciais, quando as chances de cura ultrapassam 90%.
A Importância do Diagnóstico Precoce
Para a SBCO, o fortalecimento da linha de cuidado é fundamental para estabelecer uma política nacional de rastreamento que seja eficaz e equitativa em todas as regiões do país. A cirurgia oncológica, uma etapa crucial do tratamento, depende diretamente do momento do diagnóstico. Quanto mais cedo o tumor for detectado, maior será a probabilidade de se optar por procedimentos menos invasivos e com melhores resultados estéticos e funcionais.
Entre as opções de cirurgia, destacam-se as conservadoras, como a lumpectomia ou quadrantectomia, que removem apenas o segmento afetado da mama, preservando uma parte significativa do tecido mamário. Em casos mais avançados, pode ser necessária a mastectomia, que envolve a remoção total da mama e, em algumas situações, de linfonodos axilares. Técnicas como a pesquisa do linfonodo sentinela têm sido implementadas para minimizar os efeitos colaterais e otimizar a recuperação das pacientes.
Autoexame e Prevenção
Importante ressaltar que o câncer de mama não se manifesta apenas com nódulos palpáveis. Alterações na textura da pele, retrações, descamações ou secreções anormais nos mamilos podem ser sinais de alerta e exigem avaliação médica imediata. Portanto, embora o autoexame não substitua a mamografia, continua sendo uma ferramenta essencial para o autoconhecimento e a identificação de mudanças no corpo.
Além do diagnóstico precoce, especialistas enfatizam que mudanças relacionadas ao estilo de vida podem reduzir significativamente o risco de desenvolver câncer de mama. Manter um peso corporal adequado, praticar atividades físicas regularmente, evitar o consumo excessivo de álcool, não fumar e seguir uma alimentação equilibrada são hábitos que contribuem para a diminuição dos fatores de risco conhecidos. O acompanhamento médico periódico e a realização de exames preventivos recomendados são complementos essenciais para essa estratégia de proteção.
Com a implementação dessas novas diretrizes e a conscientização contínua, a expectativa é que o Brasil consiga melhorar os índices de diagnóstico e tratamento do câncer de mama, proporcionando às mulheres um futuro mais saudável e esperançoso.
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