Aborto Espontâneo: Causas, Sintomas e Tratamento
O aborto espontâneo é a perda natural da gravidez que ocorre antes das 20 semanas de gestação, sendo frequentemente causado por anomalias genéticas ou problemas de saúde materna. Neste artigo, exploraremos suas causas, sintomas e opções de tratamento.
O que é o aborto espontâneo?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o aborto espontâneo como a interrupção de uma gravidez antes de 20 semanas. Quando a idade gestacional é incerta, um peso inferior a 500 g pode ser utilizado como critério. O aborto espontâneo refere-se à morte não induzida do feto ou embrião dentro do útero antes das 20 semanas. Diferente do aborto induzido, o aborto espontâneo acontece sem intervenção externa.
É importante esclarecer a terminologia: “abortamento” refere-se ao processo, enquanto “aborto” é o resultado, ou seja, o feto ou embrião expelido. O embrião é considerado desde a fecundação até 8 semanas, passando a ser chamado de feto a partir da 9ª semana. Para fins deste artigo, usaremos os termos de forma intercambiável.
Incidência
Pesquisas mostram que o aborto espontâneo é comum, ocorrendo em até 20% das gestações. Este número pode ser ainda maior, uma vez que muitas mulheres não percebem que engravidaram ou abortaram. Estima-se que 30% a 50% das gravidezes podem terminar em aborto, com 80% dos casos ocorrendo no primeiro trimestre. Após 12 semanas, o risco diminui para cerca de 1 a 3% das gestações. A maioria das mulheres que passam por um aborto no primeiro trimestre não apresenta problemas de fertilidade, e apenas três ou mais abortos consecutivos são motivo para investigação médica.
Fatores de Risco para o Aborto
Diversos fatores podem aumentar o risco de aborto espontâneo, incluindo idade materna, condições médicas, uso de medicamentos e fatores ambientais. Aqui estão alguns dos principais fatores:
Idade Materna Avançada
A idade da mãe é um dos principais fatores de risco. Aproximadamente metade dos abortos espontâneos precoces são atribuídos a anomalias cromossômicas. Quanto maior a idade materna, maior a incidência de tais anomalias, especialmente a partir dos 35 anos. Mulheres entre 20 e 30 anos têm uma taxa de aborto de 9% a 17%, enquanto aos 40 anos essa taxa sobe para 40%.
Histórico de Perda Gestacional
Um aborto anterior aumenta o risco de abortos subsequentes. Quanto mais abortos espontâneos uma mulher tiver, maior será sua probabilidade de experimentar outro aborto. A história familiar de abortos também pode influenciar esse risco.
Condições Médicas
Problemas de saúde materna têm um impacto maior no risco do que condições do pai. Infecções durante a gravidez, como sífilis e rubéola, são responsáveis por uma parte significativa das perdas gestacionais. Condições endocrinológicas como diabetes não controlado e síndrome dos ovários policísticos também aumentam o risco.
Obesidade e Estresse
A obesidade é um fator de risco maior do que o diabetes, com mulheres com IMC acima de 25 kg/m² apresentando um aumento de 70% no risco de aborto. O estresse, tanto agudo quanto crônico, pode contribuir para abortos espontâneos devido a vários mecanismos fisiológicos.
Exposição Ambiental
Poluentes e toxinas, como radiação e chumbo, podem induzir a morte celular e afetar o desenvolvimento saudável do feto, aumentando o risco de aborto espontâneo.
Classificação do Abortamento
Abortamento Precoce
Definido quando ocorre até a 12ª semana, o abortamento precoce representa cerca de 80% de todos os abortos espontâneos. As causas mais comuns incluem anomalias cromossômicas, alterações anatômicas do útero e trauma.
Abortamento Tardio
Ocorre entre a 13ª e a 20ª semana de gestação, sendo menos comum que o abortamento precoce. Causas incluem infecções, estresse crônico e malformações uterinas.
Sintomas do Abortamento
Sinais de um aborto espontâneo incluem sangramento vaginal e cólicas abdominais. Durante o abortamento precoce, a mulher pode notar a cessação dos sintomas típicos da gravidez, como náuseas. O sangramento pode variar em intensidade e pode ser acompanhado por coágulos ou tecido fetal.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico geralmente é realizado através de exame ginecológico e ultrassonografia. O tratamento varia conforme a gravidade do caso e a fase da gestação. As opções incluem conduta expectante, tratamento medicamentoso e tratamento cirúrgico.
Conduta Expectante
Essa abordagem envolve aguardar a expulsão espontânea do tecido gestacional. Aproximadamente 80% das mulheres se recuperam em até 14 dias.
Tratamento Medicamentoso
Utiliza-se frequentemente a combinação de mifepristona e misoprostol, com eficácia elevada na expulsão do conteúdo uterino.
Tratamento Cirúrgico
Envolve procedimentos como aspiração manual ou curetagem, especialmente em casos de abortamento tardio ou quando há retenção de restos ovulares.
Ameaça de Abortamento
A presença de sangramento vaginal e dor abdominal leve, com colo uterino fechado e feto viável, caracteriza a ameaça de abortamento, que pode ter um bom prognóstico com tratamento adequado.
Considerações Finais
O aborto espontâneo é um evento comum, e a maioria das mulheres que passam por essa experiência pode ter gestações saudáveis no futuro. Embora um episódio isolado de aborto não indique problemas de fertilidade, múltiplos abortos podem exigir investigação médica.
Referências
- Abortamento Espontâneo: classificação, diagnóstico e conduta – 2021 – Febrasgo.
- Pregnancy loss (miscarriage): Risk factors, etiology, clinical manifestations, and diagnostic evaluation – UpToDate.
- Early Pregnancy Loss – Medscape.
- Medical management of abortion – World Health Organization.
- Current Concepts and New Trends in the Diagnosis and Management of Recurrent Miscarriage – Obstetrical & Gynecological Survey.
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