Personalizar estratégias nutricionais na UTI melhora alta hospitalar

Personalização de Estratégias Nutricionais na UTI: Aumento da Oferta Calórica até a Alta Hospitalar

A intervenção nutricional personalizada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) tem mostrado um impacto significativo na ingestão calórica e proteica dos pacientes durante a hospitalização. A nutrição adequada é crucial, especialmente em situações de doença crítica, onde o catabolismo acentuado pode resultar em perda muscular e redução de peso.

O Desafio da Nutrição em Pacientes Críticos

Durante a hospitalização em UTI, os pacientes frequentemente enfrentam condições que dificultam a manutenção de uma alimentação adequada. A Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo classifica a evolução da doença crítica em três fases: “agudo inicial”, “agudo tardio” e “recuperação”. Cada uma dessas fases requer uma abordagem nutricional específica e progressiva, adaptada às necessidades dos pacientes.

Entretanto, a aplicação prática dessas estratégias pode ser desafiadora. Problemas como intolerância gastrointestinal e a necessidade de jejum frequentemente reduzem a oferta calórica a menos de 50% das necessidades energéticas nas primeiras fases de tratamento. Essas limitações podem impedir um aumento sustentado na nutrição, o que é fundamental para a recuperação dos pacientes.

Estudo INTENT: Intervenção Nutricional Personalizada

O estudo INTENT (Intensive Nutrition Therapy ComparEd to usual care in critically ill adults) foi conduzido para avaliar se uma intervenção nutricional personalizada poderia fornecer uma oferta calórica superior ao tratamento convencional para pacientes internados na UTI. O estudo envolveu 237 pacientes adultos, que necessitavam de ventilação mecânica invasiva por períodos de 72 a 120 horas e que recebiam menos de 80% das necessidades energéticas estimadas através da nutrição enteral.

Os participantes foram divididos em dois grupos: 118 pacientes receberam o tratamento usual, enquanto 119 foram submetidos à intervenção nutricional personalizada. No início do estudo, foi administrada nutrição parenteral suplementar sempre que a oferta diária de energia estivesse abaixo de 80% da necessidade. Em seguida, os cuidados nutricionais foram adaptados, utilizando nutrição oral, enteral ou parenteral conforme as indicações de um nutricionista, até a alta hospitalar ou até o 28º dia de internação.

Metodologia do Estudo

A intervenção nutricional personalizada envolveu um acompanhamento diário por um nutricionista, com o objetivo de garantir que o plano de gerenciamento fosse adequado e que a oferta de energia fosse mantida entre 80% e 100% das necessidades previstas. O desfecho primário do estudo foi a quantidade de energia fornecida em kcal/dia até a alta hospitalar ou até o 28º dia. Os desfechos secundários incluíram a ingestão de proteína, a duração da internação, dias sem ventilação mecânica até o dia 28 e a taxa de infecções na corrente sanguínea.

Resultados do Estudo

O período médio de intervenção foi de 19 dias para ambos os grupos. Os resultados mostraram um aumento significativo na oferta calórica e proteica no grupo que recebeu nutrição personalizada. A ingestão de energia foi de 1796 ± 31 kcal/dia para o grupo de nutrição personalizada, em comparação com 1482 ± 32 kcal/dia para o grupo de tratamento usual, resultando em uma diferença média ajustada de 271 kcal/dia. A entrega de proteína também apresentou um aumento considerável, com 93 ± 2 g/dia no grupo de nutrição personalizada versus 72 ± 2 g/dia no grupo de tratamento usual.

Embora não tenham sido observadas diferenças em nenhum dos desfechos secundários, os achados indicam que a implementação de intervenções nutricionais personalizadas requer um suporte especializado maior do que o habitual. Estudos anteriores já demonstraram que a presença de um nutricionista na UTI pode melhorar a nutrição fornecida e aumentar a atenção da equipe médica ao cuidado nutricional do paciente.

Conclusão

Em suma, a intervenção nutricional personalizada iniciada na UTI e mantida até a alta hospitalar resultou em um aumento significativo na oferta de energia durante a hospitalização de pacientes críticos. Essa abordagem não apenas promove a recuperação, mas também pode ter implicações positivas na qualidade de vida dos pacientes após a alta. É essencial que as equipes de saúde reconheçam a importância da nutrição na recuperação de pacientes críticos e integrem nutricionistas em suas práticas diárias.

Referência: Ridley, E.J., Bailey, M., Chapman, M.J. et al. The impact of a tailored nutrition intervention delivered for the duration of hospitalisation on daily energy delivery for patients with critical illness (INTENT): a phase II randomised controlled trial. Crit Care 29, 8 (2025). https://doi.org/10.1186/s13054-024-05189-3


Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.