Análise do Comportamento Aplicada e o Tratamento do Transtorno do Espectro Autista
Nos últimos anos, a conscientização sobre o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) aumentou significativamente, revelando um crescimento da incidência em subgrupos específicos, como adultos jovens e mulheres. Essa maior atenção a uma condição que é permanente e potencialmente grave reforça a necessidade de tratamentos consistentes, preferencialmente iniciados nos primeiros anos de vida, para promover um desenvolvimento saudável e uma melhor adaptação à vida cotidiana.
A Análise do Comportamento Aplicada, comumente conhecida como ABA, é atualmente a terapia baseada em evidências mais amplamente reconhecida como o padrão-ouro no tratamento de crianças com autismo. Mas o que realmente envolve a Análise do Comportamento Aplicada?
O que é Análise do Comportamento Aplicada (ABA)?
A ABA refere-se a um conjunto de práticas terapêuticas fundamentadas na ideia de que a interação entre um indivíduo e seu ambiente influencia seu comportamento e aprendizado. O modelo da ABA visa promover mudanças práticas e progressivas no comportamento ao modificar o ambiente do paciente.
Um tratamento ABA envolve várias etapas, onde o terapeuta:
- Identifica, em colaboração com o paciente e seus familiares, comportamentos inadaptados e define metas viáveis para o desenvolvimento de comportamentos alternativos equivalentes;
- Modifica o ambiente para facilitar o surgimento e o treinamento de novos comportamentos;
- Implementa esquemas de reforçamento positivo, visando a generalização dos novos comportamentos em diversos ambientes e contextos.
Através desse processo, as terapias ABA não apenas reduzem comportamentos interferentes, mas também promovem a aquisição e manutenção de habilidades essenciais, como aprendizagem, socialização, linguagem e independência funcional. Esses ganhos são extremamente relevantes para aumentar as oportunidades de aprendizado e melhorar a compreensão dos familiares sobre os comportamentos dos pacientes.
Por que Escolher a Abordagem ABA?
As terapias baseadas em ABA são amplamente reconhecidas como intervenções eficazes para crianças com autismo, sendo consideradas o padrão-ouro na terapia para essa população. Estudos demonstraram que essa abordagem é eficaz no desenvolvimento da linguagem receptiva, habilidades cognitivas, comportamento adaptativo, comunicação e socialização.
Pesquisas recentes indicam que a eficácia das terapias ABA se mantém promissora, mesmo quando aplicadas por pais, em vez de terapeutas. A ABA se destaca pela possibilidade de monitoramento objetivo, com metas individualizadas e mensuráveis, além de permitir uma exploração ampla de comportamentos-alvo em diversos contextos.
Tipos de Intervenções ABA
Existem diferentes abordagens dentro da Análise do Comportamento Aplicada:
- Intervenção Focal: Refere-se a um plano terapêutico direcionado a um número limitado de alvos comportamentais ou habilidades específicas, como reduzir autolesões ou ensinar uma habilidade de comunicação específica. Geralmente, essa abordagem é aplicada com intensidade moderada, entre 10 a 25 horas por semana.
- Intervenção Abrangente: Visa um conjunto mais amplo de domínios de desenvolvimento, como comunicação, socialização e comportamentos adaptativos. Essa abordagem é intensiva, podendo variar de 30 a 40 horas por semana ou mais, e tem duração prolongada, buscando mudanças funcionais de longo prazo.
A escolha entre uma abordagem focal ou abrangente deve ser baseada em uma avaliação individualizada das necessidades da criança, considerando seu nível de desenvolvimento e o potencial de progresso.
Quando Indicar uma Abordagem ABA?
Após o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista, é fundamental avaliar o impacto das dificuldades da criança na vida cotidiana. Essa avaliação deve ser abrangente, envolvendo não apenas comportamentos interferentes e aspectos de comunicação social, mas também rotinas como alimentação, sono e autonomia.
A ABA deve ser considerada quando houver um impacto significativo nas seguintes áreas:
- Comunicação e linguagem;
- Interação social;
- Comportamentos interferentes;
- Déficits adaptativos, como dificuldades em atividades diárias.
A idade da criança é um fator importante; quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhores podem ser os resultados, devido à maior plasticidade neuronal. Além disso, é essencial investigar e tratar comorbidades que possam influenciar o progresso terapêutico, como déficits sensório-motores e transtornos do sono.
Como Avaliar o Sucesso da Abordagem ABA?
Alguns indicadores podem ajudar a mensurar o sucesso da terapia ABA e a necessidade de continuidade do tratamento:
- Aderência familiar e frequência nas sessões;
- Aumento da frequência de comportamentos adaptativos e redução de comportamentos interferentes;
- Ampliação da autonomia, com aquisição de habilidades como linguagem e socialização;
- Redução do estresse familiar;
- Melhora na qualidade de vida e maior inserção na comunidade.
Tratamentos ABA eficazes resultam em mudanças comportamentais significativas e duradouras, promovendo maior autonomia para os pacientes e ampliando as oportunidades de aprendizado para as crianças e seus cuidadores.
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