Recomendações e Orientações sobre Cobalamina (Vitamina B12): Consenso ABRAN
Especialistas enfatizam a relevância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da deficiência de cobalamina, visando evitar complicações irreversíveis. A cobalamina, também conhecida como vitamina B12, é um micronutriente essencial que desempenha papéis fundamentais na eritropoiese, no metabolismo energético dos ácidos graxos e no desenvolvimento neurológico. Este nutriente é exclusivamente sintetizado por microorganismos pertencentes aos reinos Bacteria e Archaea, e sua principal fonte alimentar são produtos de origem animal.
A deficiência de vitamina B12 pode ocorrer em contextos de maior demanda ou ingestão inadequada, resultando em complicações neurológicas, hematológicas e metabólicas. Diante das incertezas em relação ao diagnóstico e tratamento, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) convocou especialistas para estabelecer recomendações baseadas em evidências sobre a identificação e manejo da deficiência de cobalamina. A seguir, apresentamos os principais pontos desta diretriz.
Quando Investigar a Deficiência de Vitamina B12?
Algumas populações e condições clínicas que estão em grupo de risco para deficiência de cobalamina incluem:
- Gestantes
- Idosos
- Veganos e vegetarianos estritos
- Indivíduos com insuficiência pancreática
- Pacientes HIV positivos
- Condições neurológicas e hematológicas
- Condições gastrointestinais, como gastrectomia, gastrite atrófica, ressecção intestinal, cirurgias bariátricas, doença inflamatória intestinal (DII), doença celíaca, entre outras
- Desnutrição de qualquer etiologia
- Diabéticos ou pacientes em uso de metformina
- Alcoolismo
- Indivíduos com macrocitose (com ou sem anemia)
- Anemia perniciosa
- Deficiência de folato
- Pacientes em hemodiálise
Nesses casos, é fundamental solicitar exames laboratoriais para investigar a deficiência de cobalamina.
Como Diagnosticar a Deficiência de Cobalamina?
Os exames laboratoriais recomendados para o diagnóstico de deficiência de vitamina B12 incluem:
- Dosagem de cobalamina sérica por ensaio imunológico quimioluminescente
- Dosagem de folato
- Hemograma
- Contagem de reticulócitos
- DHL (desidrogenase láctica)
- Bilirrubina
- Ácido metilmalônico (MMA)
- Homocisteína
- Anticorpos anti-fator intrínseco
- Transcobalamina
Os valores de referência para a cobalamina sérica podem variar conforme o laboratório e os ensaios utilizados. Geralmente, os valores recomendados são:
- Normal: ≥ 300 pg/mL
- Limítrofe: 200 a 300 pg/mL
- Deficiência: < 200 pg/mL
Para pacientes com concentrações limítrofes de cobalamina, é aconselhável interpretar marcadores adicionais de deficiência. O principal marcador utilizado nesses casos é o MMA, que se acumula na deficiência de cobalamina, apresentando aumento em sua concentração. A homocisteína também pode aumentar, mas deve-se ter em mente que esse aumento pode ocorrer em casos de deficiência de folato e trombose arterial.
Quais as Consequências da Deficiência de Vitamina B12?
A deficiência de cobalamina pode resultar em várias manifestações clínicas, incluindo distúrbios hematológicos, neurológicos e psiquiátricos. As principais complicações incluem:
- Anemia megaloblástica
- Alterações neurológicas, como neuropatia periférica ou polineuropatia
- Degeneração combinada subaguda da medula espinhal
- Disfunção autonômica, que pode levar a fraqueza progressiva dos membros inferiores
- Dificuldades cognitivas, frequentemente manifestadas por queixas de memória que se agravam com o tempo
- Alterações psiquiátricas, incluindo depressão e sintomas psicóticos
- Neuropatia óptica, que pode causar déficit visual progressivo
- Sintomas sistêmicos como fadiga, adinamia, palidez, astenia e redução da capacidade de trabalho físico e mental
- Glossite
É importante ressaltar que manifestações neurológicas e psiquiátricas podem ocorrer mesmo na ausência de anemia megaloblástica. Em casos neurológicos, algumas sequelas podem ser irreversíveis, sublinhando a importância da detecção precoce e do manejo oportuno da deficiência de vitamina B12.
Tratamento da Deficiência de Cobalamina
A escolha da via de administração do tratamento depende da gravidade da deficiência, das condições do paciente e da causa subjacente. As principais vias de suplementação incluem:
- Via intramuscular: Proporciona maior concentração e intervalos mais espaçados entre as doses. Indicada em casos de deficiência severa ou aguda, ou em pacientes com absorção alterada, como aqueles que passaram por cirurgias bariátricas. Recomenda-se um esquema de 1.000 µg por mês ou 1.000 a 3.000 µg a cada 6 ou 12 meses.
- Via oral: Pode ser utilizada em casos menos graves ou deficiências crônicas, necessitando de boa adesão ao tratamento e sendo adequada para pacientes que têm medo de injeções.
- Via sublingual: Oferece boa biodisponibilidade, eficácia e praticidade, embora tenha adesão semelhante à via oral. Para esta via, recomenda-se uma dose de 1000 µg/dia durante uma semana, seguida de 1000 µg por semana durante quatro semanas.
O monitoramento periódico dos níveis séricos de cobalamina deve incluir medições de folato, ferro, hematócrito e contagem de reticulócitos. A dosagem de homocisteína e MMA também pode ser útil, assim como o acompanhamento da contagem de plaquetas e do potássio durante a terapia com cobalamina. O seguimento clínico e laboratorial deve ser individualizado, com reavaliações a cada 2 a 6 meses, de acordo com a resposta terapêutica e a condição do paciente.
Considerações Finais
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado da deficiência de cobalamina são cruciais para prevenir complicações e sequelas permanentes. As diretrizes discutidas fornecem um guia prático para profissionais de saúde na identificação e manejo desta condição, destacando a importância do cuidado contínuo e do acompanhamento clínico.
Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.