Dieta FMD: Benefícios para Imunidade, Resistência à Insulina e Idade Biológica
A busca por intervenções nutricionais que promovam a saúde de forma segura e eficaz tem se intensificado, levando à exploração de estratégias que vão além da simples restrição calórica. A dieta que imita o jejum (FMD, do inglês Fasting-Mimicking Diet) propõe ciclos curtos de baixa caloria e proteína, seguidos por períodos de alimentação normal. O objetivo é desencadear respostas celulares semelhantes às do jejum prolongado, mas sem os desconfortos associados à privação total de alimentos.
Estudos realizados em modelos animais já demonstraram efeitos promissores sobre inflamação, regeneração celular e longevidade. Em humanos, pesquisas clínicas recentes confirmaram benefícios significativos para marcadores de risco metabólico, imunidade e até mesmo para a idade biológica, estimada por meio de biomarcadores sanguíneos.
Investigação dos Efeitos da FMD
Uma pesquisa recente publicada na revista Nature analisou os efeitos de três ciclos mensais de FMD em adultos. Esta dieta à base de plantas foi desenvolvida para reproduzir efeitos semelhantes ao jejum em níveis de IGF-1, IGFBP-1, glicose e corpos cetônicos, ao mesmo tempo que fornece macro e micronutrientes, minimizando a carga do jejum e os efeitos adversos.
O protocolo consiste em um período de 5 dias por mês de alimentação hipocalórica e com baixo teor proteico. O primeiro dia fornece cerca de 2.000 kcal (11% de proteína, 46% de gordura e 43% de carboidrato), enquanto os dias 2 a 5 oferecem aproximadamente 717 kcal (9% de proteína, 44% de gordura e 47% de carboidrato) diariamente. Os principais componentes da FMD geralmente incluem alimentos de origem vegetal, como vegetais, nozes e sementes, além de gorduras saudáveis, como azeite de oliva. Durante a pesquisa, o plano alimentar incluiu sopas, barras energéticas, bebidas energéticas, snacks, chá e suplementos de minerais, vitaminas e ácidos graxos essenciais.
Resultados da Dieta FMD
Resistência à Insulina
Em participantes pré-diabéticos, a implementação de três ciclos mensais de FMD resultou em uma redução significativa do HOMA-IR (índice que avalia a resistência insulínica), passando de 1,473 ± 0,85 para 1,209 ± 0,99. Isso sugere uma maior sensibilidade à insulina, mesmo após o retorno à dieta normal. Quedas nos níveis de HbA1c também foram observadas, reduzindo de 5,8% para 5,43%, reforçando o potencial da FMD como uma estratégia auxiliar na prevenção ou no retardamento da progressão para diabetes tipo 2.
Imunidade e Imunossenescência
O envelhecimento do sistema imunológico, conhecido como imunossenescência, é caracterizado, em parte, por um desequilíbrio na proporção linfóide:mielóide, além de uma elevada incidência de anemia e malignidades mieloides. Após três ciclos da FMD, todos os participantes apresentaram um aumento significativo na razão linfóide:mielóide, indicando efeitos rejuvenescedores no sistema imunológico.
Idade Biológica
Além das alterações em marcadores isolados, a FMD demonstrou um impacto notável na estimativa de idade biológica. Em média, os participantes apresentaram uma redução de 2,5 anos na idade biológica após completar três ciclos de FMD, independentemente da perda de peso observada durante o período. Essa desaceleração do envelhecimento celular sugere benefícios a longo prazo na saúde e um potencial aumento na expectativa de vida, com menor risco de doenças crônicas.
Gordura Abdominal e Hepática
Em voluntários que realizaram três ciclos mensais de FMD, medidos por ressonância magnética, observou-se uma redução significativa do índice de massa corporal (IMC) e diminuição da gordura corporal total. A análise do tecido adiposo revelou uma queda tanto da gordura subcutânea quanto da gordura visceral, inclusive em participantes com IMC superior a 25. Além disso, a fração de gordura hepática (HFF) foi reduzida de forma significativa, com participantes que apresentavam mais de 5% de HFF passando de 14,32 ± 5,8% para 7,94 ± 4,22% (uma redução de cerca de 50%). Esses achados indicam que a FMD não apenas melhora parâmetros metabólicos, mas também promove a redução de gordura visceral e hepática, apresentando potencial para o tratamento de esteatose hepática.
Considerações Finais
A dieta que imita o jejum surge como uma intervenção nutricional promissora, com evidências de que ciclos breves de restrição controlada podem melhorar significativamente a sensibilidade à insulina, reforçar a função imunológica e trazer outros benefícios. Embora os resultados sejam encorajadores, ainda é necessário investigar a aderência em diferentes populações, possíveis interações medicamentosas e os efeitos de longo prazo em estudos de acompanhamento prolongados.
Referências:
- Brandhorst, S., Levine, M.E., Wei, M. et al. Fasting-mimicking diet causes hepatic and blood markers changes indicating reduced biological age and disease risk. Nat Commun 15, 1309 (2024). https://doi.org/10.1038/s41467-024-45260-9
- Boccardi V, Pigliautile M, Guazzarini AG, Mecocci P. The Potential of Fasting-Mimicking Diet as a Preventive and Curative Strategy for Alzheimer’s Disease. Biomolecules. 2023 Jul 14;13(7):1133. doi: 10.3390/biom13071133. PMID: 37509169; PMCID: PMC10377404.
Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.