Prevenção de Doenças Renais: Uma Preocupação Crescente.
Gianna Mastroianni Kirsztajn
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(*) Professora Doutora (UNIFESP-EPM)
Coordenadora do Comitê de Prevenção de Doenças Renais da SBN
Coordenadora do Setor de Glomerulopatias da UNIFESP-EPM

Introdução

A doença renal crônica (DRC) vem chamando a atenção de estudiosos, autoridades governamentais e profissionais de saúde em todo o mundo, devido ao rápido aumento de sua prevalência, aliado à constatação de que o número de doentes sem diagnóstico é muito superior ao atualmente detectado e de que a DRC tem uma participação relevante no aumento do risco cardiovascular 1. Ela é vista, hoje em dia, como um problema de saúde pública e tem a peculiaridade de ter um custo de tratamento muito elevado, em especial quando se fala em tratamento de substituição renal (TSR), o que torna a sua prevenção a melhor solução, não só por tratar-se da coisa certa a fazer, mas para que se possa arcar com os custos do atendimento ao doente renal nos próximos anos.

Buscando as origens da situação que estamos vivendo, foi constatado que, nas últimas décadas, as principais causas de morte e incapacidade estão mudando; antes eram as deficiências nutricionais e doenças infecciosas e hoje são as doenças cardiovasculares. Neste contexto, é interessante lembrar que um dos fatores envolvidos nesta mudança do perfil de mortalidade é justamente o crescimento na prevalência da DRC; aumento este que, curiosamente, não é decorrente de doenças intrinsecamente renais, mas é determinado por doenças sistêmicas que secundariamente lesam os rins, como a doença aterosclerótica e o diabetes, com destaque para esta última2.

Antes de prosseguir, é preciso lembrar que, hoje, a DRC é definida como a presença de lesão renal ou de redução da taxa de filtração glomerular (TFG inferior a 60 mL/min/1,73 m2 de superfície corpórea) por 3 meses ou mais, independente da causa. Em muitos casos, a lesão renal pode ser estabelecida pela presença de albuminúria (índice albumina/creatinina superior a 30 mg/g em duas de três amostras de urina) e a TFG pode ser estimada a partir da creatinina sérica e equações, como a do estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) ou a fórmula de Cockcroft-Gault.

Outro ponto importante, na tentativa de uniformizar a comunicação entre os que lidam com a doença, é a utilização de uma classificação baseada na severidade da DRC, sendo bem aceita atualmente a classificação proposta pelo Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO)em cinco estágios de acordo com o nível da TFG 3

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