Prevenção de Doenças Renais: Uma Preocupação Crescente.
Gianna Mastroianni Kirsztajn*
A Dimensão do Problema
A DRC em estágio terminal, neste artigo propositalmente referida como insuficiência renal crônica terminal para facilitar a distinção em relação aos demais estágios, geralmente afeta menos de 1% da população (e corresponde, nesta estimativa, à necessidade de diálise ou transplante renal ou ainda morte por insuficiência renal crônica).
No entanto, a insuficiência renal crônica terminal é apenas uma das fases da DRC, que é de fato uma condição altamente prevalente, mas freqüentemente silenciosa, com riscos elevados de mortalidade e morbidade cardiovasculares e um amplo espectro de complicações metabólicas. Hipertensão arterial, tabagismo, hipercolesterolemia e obesidade, que são fatores globais de risco para a saúde, estão fortemente associados a DRC. Esses fatores juntamente com uma prevalência crescente de diabetes e o envelhecimento da população estão determinando um aumento expressivo na freqüência de DRC e insuficiência renal crônica terminal em todo o mundo, nos últimos anos4.
Hoje, cerca de 50 milhões de indivíduos são portadores de DRC progressiva e mais de um milhão de pessoas são tratadas com TSR. Dessas, mais de 85% moram em países industrializados5. Vale salientar que a incidência de insuficiência renal crônica terminal (com necessidade de TSR) dobrou ao longo dos últimos 15 anos e as previsões são de que venha a dobrar novamente nos próximos 10 anos, em grande parte devido a uma incidência crescente de diabetes do tipo 2 e de obesidade6. Atualmente, entre 30 e 50% dos casos de insuficiência renal crônica terminal, em países industrializados, são devidos a diabetes e hipertensão arterial. Já nos países em desenvolvimento, uma proporção elevada ainda se deve a doenças renais relacionadas a infecções; entretanto, mesmo nesses, vem sendo detectado um número crescente de casos de nefropatias diabética e hipertensiva, o que se deve a mudanças no estilo de vida das populações7.
Faltam em geral dados referentes ao número de casos de doentes renais crônicos na maioria dos países em desenvolvimento; mas quando disponíveis, esses dados são alarmantes. Estudos junto à comunidade no Paquistão revelam que aproximadamente 15 a 20% das pessoas com 40 anos ou mais têm uma taxa de filtração glomerular estimada diminuída e esses achados são consistentes com a alta prevalência de diabetes e hipertensão arterial.
A prevalência de diabetes em países do subcontinente indiano (em torno de 20% entre pessoas com 40 anos ou mais) é cerca de duas a três vezes aquela relatada em países ocidentais. O aumento do número de hipertensos é ainda maior, afetando aproximadamente um terço dos paquistaneses com 45 anos de idade ou mais (1990-1994 National Health Survey of Pakistan)1.
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