Prevenção de Doenças Renais: Uma Preocupação Crescente.
Gianna Mastroianni Kirsztajn*
Proceder à triagem em massa da população para DRC com testes (como, por exemplo, a análise de urina) não é considerado pelos entendidos como uma estratégia prática, custo-efetiva, nem destinada a ter sucesso19, embora tenha o seu valor. De fato, a maioria das diretrizes voltadas para a prática clínica recomenda que sejam identificados os indivíduos de risco, ou seja, aqueles portadores de hipertensão arterial, diabetes, obesidade e outras condições predisponentes, assim como pessoas de mais idade e parentes de portadores de DRC. Vale salientar que screenings com tiras reagentes em amostras isoladas de urina para microalbuminúria ou proteinúria devem ter seus resultados confirmados por análises quantitativas em amostra isolada de urina, particularmente com determinação de índices albumina/creatinina e proteína/creatinina na urina 19. A creatinina sérica é importante, em especial por ser um marcador facilmente disponível e confiável de DRC, porém é preciso estar alerta para os fatores que podem interferir nos seus resultados. Deve-se ter em mente que, se avaliada apenas com base em seus valores absolutos (sem a utilização, por exemplo, de fórmulas para estimar a TFG), a função renal pode estar comprometida muito antes dos níveis de creatinina se elevarem. Por isso, é aconselhável que os resultados de creatinina sérica sejam apresentados em conjunto com a TFG calculada por equações desenvolvidas para esse fim.
Programas de prevenção primária bem estruturados e que contem com os devidos recursos, baseados na redução dos fatores de risco para DRC, podem fazer toda a diferença 17. Entre essas medidas, encontram-se: deixar de fumar e perder peso. A prevenção secundária envolve o controle rigoroso da pressão arterial (tendo com alvo níveis inferiores a 130×80 mmHg) 20 e o uso de medicações que promovem o bloqueio do sistema renina-angiotensina (inibidores da enzima conversora da angiotensina e/ou bloqueadores de receptor de angiotensina), objetivando a redução da proteinúria para níveis inferiores a 1g/24 horas. As diretrizes também orientam que se faça o controle rigoroso do diabetes (considerando os níveis de HbA1c). As estatinas podem ser benéficas em pacientes com DRC. Uma abordagem multifatorial tendo como meta a redução dos fatores de risco, como a citada, pode lentificar ou mesmo reverter o declínio da função renal 21.
Considerando-se a posição atual do diabetes como determinante de DRC, recomenda-se hoje em dia a realização de determinações anuais de microalbuminúria e creatinina sérica para triagem de nefropatia diabética22.