Infecção Urinária na Gravidez Riscos e Tratamento Essenciais

Infecção Urinária na Gravidez: Riscos e Tratamento

A infecção do trato urinário (ITU) durante a gravidez é um problema comum que requer atenção especial, pois pode resultar em complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir possíveis complicações. Neste artigo, discutiremos os riscos associados à infecção urinária na gravidez e as opções de tratamento disponíveis.

Introdução

A infecção urinária, particularmente a infecção da bexiga conhecida como cistite, é uma complicação relativamente frequente entre gestantes. Durante a gravidez, ocorrem mudanças hormonais e físicas no corpo da mulher, que, somadas à dificuldade de manter a higiene devido ao aumento do volume abdominal, aumentam a probabilidade de infecções do trato urinário. A infecção urinária abrange qualquer infecção que afete os rins, bexiga e uretra. A infecção renal é chamada de pielonefrite, enquanto a infecção da bexiga é referida como cistite e a infecção da uretra como uretrite.

Infecção Urinária vs. Bacteriúria

O trato urinário normalmente é estéril, ou seja, não contém germes. Contudo, algumas pessoas podem apresentar bactérias na urina sem que isso signifique necessariamente uma infecção urinária. Esta condição é conhecida como bacteriúria assintomática. Na maioria dos casos, a bacteriúria assintomática não requer tratamento. Entretanto, a gravidez é uma exceção, pois mulheres grávidas têm maior risco de desenvolver infecções urinárias a partir da bacteriúria. As alterações hormonais e na musculatura dos órgãos urinários podem favorecer o refluxo de urina e a dilatação dos ureteres, aumentando a probabilidade de as bactérias da bexiga alcançarem os rins, resultando em pielonefrite.

Além disso, a bacteriúria assintomática durante a gravidez está associada a um risco elevado de parto prematuro, baixo peso do bebê e aumento da mortalidade perinatal. Assim, ao contrário do que ocorre em mulheres não grávidas, recomenda-se que gestantes façam exames para detectar a presença de bactérias na urina, mesmo na ausência de sintomas. Caso a bacteriúria seja confirmada, o tratamento com antibióticos é indicado para esterilizar o trato urinário e evitar complicações na gestação. Se não tratadas, cerca de 40% das gestantes com bacteriúria assintomática poderão desenvolver pielonefrite.

Cistite na Gravidez

A cistite ocorre em aproximadamente 1 a 2% das mulheres grávidas. Devido ao maior risco de ascensão das bactérias em direção aos rins, a cistite durante a gestação é considerada uma condição mais grave do que em mulheres não grávidas. A cistite na gestante é geralmente causada por bactérias semelhantes às que causam cistites em mulheres não gestantes, com destaque para a bactéria E. coli.

O aumento do útero pode dificultar o esvaziamento da bexiga, favorecendo o acúmulo de urina e, consequentemente, a multiplicação de bactérias. Os sintomas clássicos da cistite em gestantes incluem:

  • Dor ou ardência ao urinar.
  • Frequente vontade de urinar.
  • Dificuldade em segurar a urina.
  • Vontade de urinar mesmo com a bexiga vazia.
  • Dor ou sensação de peso na bexiga.
  • Presença de sangue na urina.

O diagnóstico da cistite é realizado através de urocultura.

Pielonefrite Aguda na Gravidez

A pielonefrite é a complicação mais comum das infecções urinárias em mulheres grávidas, ocorrendo em cerca de 2% das gestações. Assim como na cistite, a pielonefrite é geralmente causada por E. coli. As mudanças hormonais e físicas da gravidez favorecem a ascensão das bactérias da bexiga para os rins, levando à infecção renal.

A pielonefrite é uma condição mais grave do que a cistite e pode provocar sepse, choque circulatório e insuficiência respiratória. Os sintomas incluem febre, calafrios, dor no flanco, náuseas, vômitos e ardência ao urinar. O diagnóstico é feito por meio de urocultura.

Tratamento

Toda gestante deve realizar uma urocultura na primeira consulta com o obstetra ou entre a 12ª e a 16ª semana de gestação. É comum que o obstetra solicite uma nova urocultura no terceiro trimestre. Qualquer gestante com urocultura positiva deve ser tratada com antibióticos, independentemente da presença de sintomas. Na gravidez, a bacteriúria assintomática é tratada como uma cistite.

Antibióticos

Antibióticos da classe das quinolonas, como ciprofloxacino, norfloxacino e ofloxacino, não são recomendados durante a gravidez. O Bactrim também não é indicado como primeira opção. As opções seguras para tratar bacteriúria assintomática ou cistite na gestante incluem:

  • Nitrofurantoína (Macrodantina®) – 100 mg por via oral a cada 12 horas durante 5-7 dias.
  • Amoxicilina – 500 mg por via oral a cada 8 ou 12 horas durante 3-7 dias.
  • Amoxicilina-clavulanato – 500 mg por via oral a cada 12 horas durante 3-7 dias.
  • Cefalexina – 500 mg por via oral a cada 6 horas durante 3-7 dias.
  • Fosfomicina – 3 g por via oral em dose única.

Uma semana após o tratamento, é necessário repetir a urocultura para confirmar a eliminação da bactéria. Se a urocultura continuar positiva, o tratamento deve ser repetido por um período mais longo. Após a eliminação da bactéria, a urocultura deve ser realizada mensalmente até o final da gestação. Gestantes com mais de dois episódios de bacteriúria podem se beneficiar de tratamento profilático com macrodantina, um comprimido de 100 mg diariamente até o final da gravidez.

Pielonefrite

Dada a maior probabilidade de complicações em mulheres grávidas, a pielonefrite é tradicionalmente tratada com hospitalização e antibióticos intravenosos até que a paciente esteja assintomática e afebril por pelo menos 48 horas. Após esse período, a paciente pode receber alta com antibióticos orais para completar um tratamento de 14 dias.

Referências

  • Infecções do trato urinário na gravidez – Medscape.
  • Infecção do trato urinário e bacteriúria na gravidez – Clinics Urológicas da América do Norte.
  • Bacteriúria assintomática entre mulheres grávidas – N Am J Med Sci.
  • Infecções do trato urinário e bacteriúria assintomática na gravidez – UpToDate.
  • Diretrizes da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas para o Diagnóstico e Tratamento de Bacteriúria Assintomática em Adultos – Clinical Infectious Diseases.

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