Jayme Landmann

Sebastião: E como foi essa vinda para o Brasil? O que motivou a vinda dasua família?

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Dr. Landman: Não sei…meu pai veio aqui em 27.

Sebastião: Ele veio primeiro?

Dr. Landman: Ele veio em 27, nós viemos em 29.

Sebastião: Ele veio primeiro.

Dr. Landman: Eu acho que ele veio por problema econômico.

Sebastião: E já veio direto pro Rio?

Dr. Landman: Não, ele veio pra Niterói. Niterói, depois Rio. Eu me formei em Niterói, logo depois de formado eu me casei, a minha mulher não deixou que eu ficasse em Niterói, então tive que vir pro Rio.

Sebastião: E o senhor se formou e casou em seguida?

Dr. Landman: Ah sim, eu me formei em 45 e casei em 47.

Sebastião: Tiveram quantos filhos?

Dr. Landman: Tenho duas filhas. Uma filha, Joyce Landman Lipsztein, que é física nuclear, trabalha no CENEM e representa o Brasil na Comissão Internacional de Energia Nuclear, inclusive ela viaja muito, vai muito a Viena nesses Congressos, ela faz mais proteção de radiação. E tenho uma outra filha que é Bioestatística,Célia Landman Szwarcwald, ela é professora na Fiocruz, as duas são doutoras e tem cursos até de pós-doutoramento, vão muito bem.

Sebastião: E o senhor já é avô?

Dr. Landman: Já, eu tenho uma neta casada.

Sebastião: Já é bisavô?

Dr. Landman: Não, ainda não. Casou há pouco, não deu tempo, mas eu tenho uma neta casada que faz telecomunicação em artes visuais lá nos Estados Unidos, ela é casada com um rapaz que é médico e está fazendo internato agora lá.

Sebastião: Nenhuma das duas fizeram medicina?

Dr. Landman: Não, mas fizeram coisas afins. Uma fez proteção de radiação e a outra bioestatística. A outra é especialista em mortalidade infantil, em Aids, esses problema Está sempre fazendo conferências por aí. Uma é Joice Landmann Lipstein e a outra é Célia Landman Szwarcwald. Tenho um neto de 25 anos que está em Hollywood fazendo cinema.

Sebastião: Cineasta?

Dr. Landman: Vai tentar. Vai ser cineasta. Agora ele está fazendo mestrado em roteiro. Trabalhou aqui com o Avancini. E tenho um outro neto que é formado em business trabalha na GE. Tenho essa neta que é casada com médico, que faz artes visuais e telecomunicação e finalmente tenho a neta menor, que tem 21 anos, e que está acabando na PUC a parte de engenharia de produção.

Sebastião: Todo mundo encaminhado já.

Dr. Landman: Todo mundo, está todo mundo quase encaminhado

Sérgio: A sua primeira geração seguiu carreiras afins na medicina, a terceira já totalmente fora, os seus netos, isso é algum conselho seu?

Dr. Landman: Tem uma que é casada com médico, então essa está perto. Os outros três não querem

Sérgio: Vai viver o drama de perto.

Dr. Landman: Você sabe que a vida de médico é uma vida que sacrifica muito a família. Nós fazíamos diálise a qualquer hora, então com certeza não gostaram do exemplo, (risos) ou então não tem vocação para a medicina.

Sérgio: O senhor aconselharia alguém a ser médico agora?

Dr. Landman: Olha, eu acho que a pessoa tendo vocação deve estudar medicina, deve fazer medicina… embora eu acho que a medicina está perdendo aquele encanto filosófico que tinha, está muito especializada, está muito compartimentada, está muito especializada, quer dizer, perdeu aquela atração humana que tinha.  Mas em todo caso, eu acho que quando a pessoa tem vocação, é uma profissão muito atrativa. Agora, o que eu acho é que economicamente e de status, a medicina está perdendo. Por isso é que você hoje tem turmas enormes de médicas, de mulheres que se formam em medicina pois acho que os homens estão evitando a medicina porque ela não dá mais para sustentar o nível de vida de antigamente e porque não dá o status que dava antigamente, você não acha?

Sebastião: E a mulher neste contexto?

Dr. Landman: A mulher precisa menos de dinheiro porque em geral, a mulher quando exerce uma profissão, a não ser em casos excepcionais, ela complementa apenas o orçamento da família. Embora isso hoje esteja mudando, eu acho que você tem muita mulher hoje estudando medicina por causa disso.

Sebastião: As feministas não vão gostar nada desta explicação…(risos)

Dr. Landman: Eu não sei, você sabe mas, uma das coisas que me chamou a atenção é o grande número de médicas que existiam na Rússia, porque na Rússia é assim: mais de 80% eram médicas e aí eu via que os médicos lá ganhavam muito pouco. Não dava pra sustentar a família. É gozado, aqui tem muito mais turmas e mais da metade dos estudantes são do sexo feminino.

Sérgio: É, e o número parece que vem aumentado.

 

Dr. Landman: Vem aumentando. É, eu acho que os homens fogem, fogem da medicina.

WB01372_.gif (406 bytes)“…nunca, nenhuma autoridade do estado…nunca me perguntou se eu precisava de alguma coisa. Você é que sempre tinha que estar pedindo…pedindo verbas para o ensino…”WB01372_.gif (406 bytes)

 

Sebastião: Nós entrevistamos o Dr. Osvaldo Ramos e ele disse que a classe alta já percebeu que medicina é furado para o indivíduo sobreviver mantendo o padrão familiar a que está acostumado. Eles encaminham os filhos para serem administradores de empresa.

Dr. Landman: É… os homens que estão ganhando dinheiro em medicina hoje em dia são os empresários, inclusive os empresários de medicina. Empresários da área médica são sujeitos, por exemplo, donos de casa de saúde que tem convênio ou são os nefrologistas que têm uma rede de convênios e tem os outros médicos trabalhando pra eles, Quer dizer, não é o trabalho médico em si que dá lucro. Você vê, por exemplo, na parte de cirurgias cardíacas: os primeiros cirurgiões cardíacos ganhavam dinheiro com a cirurgia cardíaca, mas hoje em dia você tem a cirurgia cardíaca espalhada e vulgarizada em quase todos os lugares, então barateia e não dá mais pra sustentar o médico, além disso, hoje em dia os convênios médicos baixaram muito o nível de remuneração do médico. O médico que se forma hoje, novo, ele tem que trabalhar com os convênios, se não ele não tem clínica, o convênio paga o que?. Vinte ou 30 reais por consulta, então não dá nem pra viver, né.

Sebastião: O senhor nunca teve um serviço particular de diálise?

Dr. Landman: Não, não, nunca quis.

Sebastião: Por que?

Dr. Landman: Eu nunca quis, porque eu achei que, não podia, como eu tinha sempre o serviço universitário, um serviço público, tinha que dedicar uma grande parte do meu tempo a essa parte, ao ensino, a organização. Eu fui diretor do hospital universitário durante uns 15 anos seguidos, fui diretor da faculdade de medicina e nunca achei que devia misturar as duas partes.

Sebastião: E aí manteve apenas a clínica, o consultório.

Dr. Landman: Eu mantenho a clínica particular a que também dei pouco tempo, quer dizer, eu clinicava quatro vezes por semana, dava o meu tempo para clínica particular e o resto todo me dediquei a organização universitária e isto exigia um tempo danado. É muito mais difícil arranjar dinheiro para os hospitais, para as entidades, entidades universitárias, do que dinheiro para o meu próprio sustento. Você perdia muito mais tempo porque, nunca, nenhuma autoridade do estado…nunca me perguntou se eu precisava de alguma coisa. Você é que sempre tinha que estar pedindo…pedindo verbas para o ensino como se fosse um favor pra você, favor particular. Tinha que usar inclusive a influência particular que tinha sobre certos doentes para poder arranjar dinheiro não para você, nunca para você, mas arranjar dinheiro para as atividades de pesquisa, para as atividades universitárias.

Sebastião: Não mudou nada, né.

Dr. Landman: Eu acho que piorou um pouco, está bravo….(risos)

Sérgio: O senhor foi diretor durante 10 anos do Pedro Ernesto?

Dr. Landman: Eu acho que foi mais, eu fui diretor em dois períodos. No primeiro período quando o hospital passou para faculdade, e depois então no segundo período fui bastante tempo… eu acho que passei com dois ou três reitores. Eu era o diretor do hospital e o reitor sempre reclamava porque eu o dinheiro da universidade era gasto no hospital

Sebastião: E, essa crise sempre existiu…

Dr. Landman: A crise sempre existiu e, eu não sei porque, mas é que, você vê, mesmo em São Paulo ou em outros centros, muitas das verbas conseguidas para sustentar a Universidade e serviços médicos, se deve mais ao prestígio pessoal de certas figuras da medicina do que a organização

 

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