Jayme Landmann

Sérgio: Como é que o senhor vê agora a eleição de diretorjaimesposa3.jpg (29307 bytes)

Dr. Landman: Eu acho que a eleição de reitor, de diretor, de coordenador faz com que desapareça uma coisa muito importante que é a valorização técnica. Se o diretor de um hospital, se o diretor de uma faculdade é eleito pelo corpo da faculdade ele passa a servir muito mais ao corpo do que ao pessoal que deve ser servido. Por exemplo: o diretor no hospital é eleito pelo corpo médico, pelo corpo de enfermagem, pelos funcionários, passa a servir muito mais aos funcionários do que servir ao público porque ele não tem compromisso com o público ele tem compromisso com os funcionários que o elegeram. Eu acho que foi um dos grandes erros que houve e que tem que ser corrigido.

Sebastião: E como é que a gente corrige isso?

Dr. Landman: Acabar com isso. Você vê por exemplo o negócio de lista tríplice que eu vi lá na Universidade. Eu acho que quem tem que nomear o Reitor de uma Universidade é quem dá o dinheiro para sustentar a Universidade, depois você vê o Ministério da Educação, ele tem uma política de Educação que deve ser seguida pelas escolas superiores. Então o Reitor tem que ser designado pelo Ministro da Educação que inclusive tem que assumir a responsabilidade da nomeação do Reitor. Se o Reitor é eleito ele passa a não ter responsabilidade nenhuma de quem assumiu a reitoria, ou a direção do hospital, a direção da faculdade, acho que é uma coisa completamente errada.

Sebastião: Em Brasília, na UNB, teve uma cachorrinha que se candidatou a Reitoria, na base da brincadeira, quase ganhou. (risos)

Dr. Landman: Não, mas não pode, não pode, tá tudo errado.

Sebastião: Professor, voltando aos livros, foram quantos?

Dr. Landman: Nove livros.

Sebastião: Nove. O último?

Dr. Landman: O último é sobre Medicina e Judaísmo.

Sebastião: Do que se trata?

Dr. Landman: Trata-seda contribuição dos judeus na Medicina, desde a Bíblia até os dias de hoje. Os judeus, hoje em dia, detêm 25% dos prêmios Nobel de medicina. Sabe por que?

Sebastião: Não

Dr. Landman: Não? Então vou te dizer porque. Só a partir de 1850, da segunda metade do século passado, é que foi permitido aos judeus estudar em universidades. Eles eram proibidos de estudar nas universidades, apesar deles terem formado algumas das universidades mais antigas do mundo. Então eles se formavam em Medicina, mas eles não podiam exerce-la. Havia uma restrição nos hospitais e nos serviços de clínica à entrada dos judeus, então eles foram para as cadeiras básicas, e é nas cadeiras básicas que se fazem as pesquisas e que se ganha o prêmio Nobel. Então eles firmaram essa tradição, e a população judia não chega a 0,5% do mundo ocidental, porém detém 25% dos prêmios Nobel de Medicina. Sempre foi uma tradição os judeus na área médica. A bíblia é um livro de Medicina Preventiva excelente, tudo que você quer de medicina preventiva tem lá.

Sebastião: Por exemplo?

Dr. Landman: Por exemplo, tem um negócio até curioso, o soldado estava na guerra e quando evacuava, tinha que enterrar a evacuação, para não transmitir a doença. Quando ele voltava da guerra, ele tinha que fumegar toda a sua roupa, tinha que passar não sei quantos dias fora do lar.

Dr. Landman: Do lar. E tem uma porção de leis por exemplo: as leis alimentares que estão na Bíblia determinam que uma grande parte da comida proibida é aquela rica em colesterol, eles proibem camarão e proibem frutos do mar, então, ricos em colesterol. A parte da carne que eles proibem é o filé mignon que é justamente a parte mais gorda. Proibem a mistura de leite e de carne na mesma refeição. Eu, muitas vezes  não atinei porque e acabei descobrindo num livro que é porque a carne representa a morte e o leite representa a vida.

Sebastião: E não se misturam.

Dr. Landman: Não, é proibido completamente.

Sebastião: Morte e vida não se misturam.

Dr. Landman: Não se misturam. Mas é um conceito filosófico interessante, correto, mas as leis quase todas, as leis de pureza sexual, as leis contra o incesto, são todas assim, então… resolvi escrever esse livro abordando esse tema.

Sebastião: Como é que nasceu a idéia? As pessoas passam ou poderiam ler a Bíblia mil vezes que não iam relacionar essas coisas num livro.

Dr. Landman: Acontece…por exemplo, a bíblia é um livro sagrado, então você respeita o livro. Eu agora estou escrevendo o meu último livro, já entreguei para a Editora, é um livro que se chama Sexo e Judaísmo. Porque eu descobri que a Bíblia é um livro cheio de sacanagem. Você tem de tudo, tem de tudo!

Sebastião: Cita os exemplos. Já tá pronto o livro? (animadíssimo)

Dr. Landman: Já, já entreguei.

Sebastião: Esse provavelmente deverá ser o seu maior best-seller.

Dr. Landman: Não sei, sabe, eu não sei, mas é que, são histórias como as de Lote com as duas filhas. Você conhece.

Sebastião: não

Dr. Landman: O Lote era primo de Abrahão e estava fugindo de Sodoma com as duas filhas e se refugiaram numa gruta.As duas filhas embebedaram o pai e tiveram relações com ele. Das relações nasceram dois filhos.Mas ninguém liga muito para essas histórias porque é um livro sacro. Você tem além da Bíblia comum, você tem a apócrifa, que são escritos daquela época que não foram canonizados, e aí tem muita beleza.

Sebastião: E esse livro, o senhor começou a quanto tempo?

Dr. Landman: Ah… já tem uns três anos.

Sebastião: E já terminou ?

Dr. Landman: Eu terminei, mas demora um bocado para editar, porque eu fiz a bobagem de entregar a edição para a Universidade, para dar ao livro um cunho mais sério. O comitê editorial da Universidade aprovou o livro por unanimidade e resolveu imprimir, mas aí a Universidade entrou em greve e não sei o que etc. Eu acho que deve sair no princípio do ano que vem.

Sebastião: Ganha-se dinheiro com livro, professor?

Dr. Landman: Ganha nada, ganha nada. O livro meu que vendeu mais que foi esse Saúde, que deu 100 mil exemplares, a editora não me deu nenhum tostão.

Sebastião: Puxa vida, mas alegando o quê?

Dr. Landman: Alegando que não tinha dinheiro, coitada.

Sebastião: Que absurdo!

Dr. Landman: Você ganha 10%, quer dizer, o livro que vende por 20 reais você ganha 2 reais. Quanto é que você ganha? Muito pouco. Ainda recebo todo mês da Guanabara, que é a única editora que é mais honesta, ela me manda 5 reais por mês

Sebastião: O senhor coloca num quadro a nota num quadro na parede?

Dr. Landman: Não, eu acho que ela gasta mais com o papel do cheque do que o respectivo valor. E a gente não tem meio de controlar o número de exemplares vendidos. Outro livro que escrevi foi sobre Medicinas Alternativas.

Sebastião: O que que o senhor acha disto? Das Medicinas Alternativas?

Dr. Landman: Ah, é uma porcaria, não é?

Sebastião: O senhor está de acordo com essa intervenção do CFM proibindo a prática deste tipo de medicina?

Dr. Landman: Ah! Estou. Estou. Acho que devia ter intervido há mais tempo. Aquilo, primeiro é uma fonte de ganhar dinheiro deshonestamente, e em segundo lugar prejudica a saúde da pessoa porque as vezes o paciente está com uma doença que pode ser tratada e fica envolvido com aquilo. Tem algumas coisas alternativas que funcionam um pouquinho sob o ponto de vista psicológico.

Sebastião: Quais?

Dr. Landman: São, por exemplo, a ioga, a meditação, você tem funcionamento em algumas doenças psicológicas, mas o resto… por exemplo, a homeopatia é um negócio que já está enterrado há muito tempo.

Sebastião:O senhor relê os livros que o senhor escreveu?

Dr. Landman: Ah! leio, leio, sou obrigado a ler várias vezes.

Sebastião: E dos novos qual o que vendeu menos?

Dr. Landman: O que vendeu menos… eu não sei, sabe? Não sei qual é. Tem um livro de crônicas que eu escrevi. Eu acho que esse vendeu menos.

Sebastião: Crônicas não médicas?

Dr. Landman: Médicas. Médicas, tudo que eu escrevi é sobre Medicina.

Professor: O senhor já está engatilhando um próximo?

Dr. Landman: Não, não estou. Eu não engatilho o próximo enquanto não sai um. E a cada dois anos eu escrevo um livro. Do último prá cá é que está demorando um pouco mais, mas é porque o assunto é muito vasto. O assunto do sexo é muito vasto, por exemplo, há uma ligação entre o misticismo judaico e a teoria de Freud, então só aquilo já me ocupou um tempão.

Sebastião: Como é que é isso?

Dr. Landman: O Freud conhecia a cabala, o misticismo. O pai dele era cabalista, e tem muitas coisas da cabala, do misticismo judaico que estão na psicanálise, porque a psicanálise não pode ter surgido do nada. Então há muita, muitos trabalhos sobre isso, mostrando que Freud conhecia a cabala, que na época dele, a cabala é a parte mística. Muitas das teorias dele sobre sexualidade, ou sobre anti semitismo são derivados desse misticismo. Por exemplo a interpretação do sentido oculto das palavras é uma coisa que já existia. Ele é que deu aquela versão.

Sebastião: Então o ato de escrever livros nasceu no senhor não por influências ou amizades com escritores….

Dr. Landman: Não. não. Os livros de crítica, sobre a situação médica, aqueles primeiros livros, eles surgiram porque as revistas médicas deixaram de aceitar os meus artigos.

Sebastião: Porque? Como?

Dr. Landman: Eles alegaram que os laboratórios de produtos médicos ou as firmas produtoras de aparelhagem médicos ameaçavam tirar os anúncios se continuassem a publicar os meus artigos.

Sebastião: Os artigos sobre a relação médico industrial?

Dr. Landman: Sobre a relação do complexo médico industrial, que é um dos grandes alvos meus. Foi sobre o complexo médico industrial, sobre a aparelhagem desnecessária e sobre a influência., a influência dessas multinacionais sobre o produtor. Uma coisa que eu focalizei muito é que hoje em dia você não distingue nas revistas médicas aquilo que é propaganda daquilo que é ciência. Que a influência é muito grande, que essas revistas médicas todas elas vivem da propaganda e aí elas começaram a não aceitar os meus artigos. Aí eu fui obrigado a escrever os livros.

Sebastião: O senhor coloca o foco em determinada indústria, em determinada multinacional?

Dr. Landman: Não, são todas, são todas!

Sebastião: São todas, não tem nenhuma santinha nessa história?

Dr. Landman: Não, porque eles vivem do lucro. Vivem do lucro. O que você tem por exemplo de CTIs no Brasil e no mundo todo ultrapassa a necessidade de CTIs da população. E aí usa a CTI para doente que não precisa de CTI. Você pega agora um exemplo que é o Swan, sabe o que é o Swan. É uma aparelhagem que você mete no pescoço para medir a pressão pulmonar. No ano passado saiu um editorial no British Medical Journal dizendo ser o canto do cisne dos Swan, porque swan quer dizer cisne. Então, o artigo mostrou que a utilização do catéter de Swan é responsável por 90% de óbitos. Coloca o Swan em um sujeito mal e a minha experiência pessoal é justamente essa. Colocava o Swan o sujeito morria, é verdade que muitos morrem porque estão muito graves,  mas muitos também morrem porque o médico em vez de se basear na hidratação do paciente ou no tratamento pelos meios semióticos comuns passam a usar o Swan, então hiper hidratam o paciente etc., então é isso, ainda estão usando, você vai em qualquer CTI e veja que estão todos usando Swan. Muitas vezes é porque o médico ganha pelo procedimento tecnológico que ele usa que é uma coisa, uma coisa muito grave, não sei se ele faz isso conscientemente, pode até fazer inconscientemente, mas ele está acostumado a usar a tecnologia. Então você tem um gasto exagerado.

Sebastião: E para usar a tecnologia precisa ser médico?

Dr. Landman: Não sei, eu acho que sim. Também se tirar até do médico isso….

Sebastião: A questão dessas multinacionais comparando serviços de diálise, impondo regras, impondo normas, não é meio em cima de tudo que o senhor está dizendo aí?

Dr. Landman: É mas, o que é que você vai fazer? Acho que já é uma grande coisa o governo pagar tudo. Mas é que você não tem como fugir disso. Mas eu acho que isso aqui, olha aqui, o negócio está muito podre. Eu não sei como é que está hoje mas, pelo menos alguns anos atrás, o indivíduo para conseguir uma licença para montar um serviço de diálise que o SUS sustenta precisava ter um pistolão político, se não, não davam a licença.

Sebastião: Como é que o senhor acha que vai terminar isso?

Dr. Landman: Não sei. Até o idealismo dos estudantes acabou. Por exemplo, eu lutei muito com aqueles movimentos de estudantes, aquilo acabou. Até dá uma tristeza, pois você gostava um pouco daquilo, você tem saudades da época que os estudantes lutavam. O estudante tinha um ideal político, hoje não tem, não tem nem ideal de estudo. Você encontra turmas enormes que querem passar de ano e querem ganhar logo dinheiro, Tem grupos que estudam ainda, que são muito bons, mas…

Sebastião: O senhor acha que isso é o que? É o mercado ditando normas?

Dr. Landman: Eu acho. É a mercantilização. Mas eu não sei porque, eu acho que também com a queda dos bastiões socialistas desapareceu uma parte, um contra-ponto. Eles perderam a referência. É triste você ver isso.

Sebastião: Por que que a gente não vê mais o senhor nos Congressos de Nefrologia?

Dr. Landman: Olha, eu acho que o Congresso é muito bom para bater papo, para travar conhecimentos, para você se especializar, mas hoje em dia as revistas tem tudo… tem Internet: a distância acabou. A distância acabou. Hoje não tem mais distância. Eu me lembro que em 45, 46, época em que me formei, você para dar um telefonema para o exterior levava 24 horas e pagava um dinheirão. Hoje em dia com o fax você transmite sua assinatura na hora para qualquer país do mundo. Acabou a distância. Eu acho que a medicina também vai acabar. Vai acabar com a genética. A genética vai acabar com a medicina. Você vai fazer o genoma do paciente, vai saber onde é que está o defeito, vai fazer a correção e acabou.

Sérgio: A impressão que passa sobre a sua ausência em determinados eventos e Congressos é que: ou o senhor brigou com o resto da nefrologia brasileira ou o resto da nefrologia brasileira da sua época, brigou com o senhor.

Dr. Landman: Não, não é isso. A verdade é que eu me desiludi com os congressos. Os congressos hoje em dia são dirigidos pelas firmas produtoras de remédio e de material. Eu fico um pouco revoltado. Eu fui a um Congresso de Nefrologia, em que eu falei sobre as complicações, eu acho que da furadantina, porque eu tive alguns casos até de embolia pulmonar, doença similar a embolia pulmonar provocada pela furadantina, quando acabei, descobri que o patrocinador do Congresso era o laboratório da furadantina e então…

Sebastião: Nunca mais foi convidado!

Dr. Landman: Não, não é só isso não, o que é que eu vou fazer num congresso? Eu sei que a única coisa boa do congresso é você encontrar uns colegas, trocar idéias, mas…

Sebastião: Nós tivemos num congresso em Florianópolis há uns anos onde todos os ex presidentes da SBN, dos antigos, foram homenageados.

Dr. Landman: Mas eu não soube disso. Não soube!.

Sebastião: Não foi convidado?

Dr. Landman: Não fui convidado. Especificamente para isso não. Mas eu não briguei com a Nefrologia, pelo contrário, tenho até uma placa no Serviço de Transplante no Pedro Ernesto, no ano passado.

Sérgio: Acho que até ficou muito forte o termo brigar, mas talvez seja uma questão de interpretação da história. Mudando de assunto, o Professor Emil Sabaga questionou o primeiro transplante no Brasil, feito no Rio, dizendo que o paciente não urinou. Urinou ou não urinou?

Dr. Landman: Urinou. Urinou sim. Urinou. O doente urinou. Mas essa bobagem de saber quem urinou primeiro é ridículo. O fato é que muitos que se pavoneam como pioneiros da Nefrologia nem se quer estavam formados quando eu e o Magaldi ha muito tempo já estavamos envolvidos com a especialidade. Mas eu tive outros problemas com transplantes…. houve um feito no hospital Pedro Ernesto, quando eu era Diretor, em que me acusaram na televisão de ter roubado um rim de cadáver. Foi uma coisa muito séria, mas não, não tenho nada contra o pessoal da nefrologia, até respeito todos eles, mas é que eu me desiludi com os congressos e que, era uma perda de tempo muito grande. Depois você quer saber de uma coisa, eu sou nefrologista, mas eu, antes de mais nada sou clínico. Você vê que eu nunca tive serviço de diálise, nunca tive serviço específico. Fiz mal, não é? Porque podia ter ganho um dinheirão.

Sérgio: O senhor lembraria de pessoas que trabalharam com o senhor. Aqueles que de alguma maneira são importantes para o senhor? Que trabalharam, que o ajudaram, que formou?.

Dr. Landman: Tem o pessoal dos Servidores do Estado e tem o pessoal do Hospital Pedro Ernesto. Alguns até eu trouxe do Servidores do Estado para a Universidade e pessoas que eu mais admiro são aquelas que são intimamente ligadas a mim, como o professor Cavallieri, como o professor Virgílio, professor Frederico Ruzani, pessoal que eu tive o prazer de formar e, que trabalharam. E tem muitos outros, eu não gostaria de citar assim especificamente porque posso ter esquecido algum e, mas basicamente é o pessoal que trabalhou comigo nos Servidores e o pessoal que trabalhou comigo no Pedro Ernesto.

Sebastião: Professor as suas posições são polêmicas?

Dr. Landman: Não sei, o pessoal é que diz.

Sérgio: A idéia é que o professor Landman é polêmico dizem. De onde o senhor acha que vem essa fama?

Dr. Landman: Não sei, eu acho que é dos livros, dos artigos que eu tinha escrito, inclusive de conferências que eu fiz. Tudo isso.

Sebastião: E como é a sua rotina de vida?

Dr. Landman: Rotina de vida? Eu acordo de manhã muito cedo. Ando. Ando porque eu já tive um infarto e sou obrigado a andar.

Sebastião: O senhor teve infarto quando?

Dr. Landman: Tive há uns 7 ou 8 anos. E sou obrigado a andar.

Sebastião: O senhor está aposentado?

Dr. Landman: Estou aposentado completamente. Pela Universidade. Aposentei quando completei 70 anos. Estou há 8 anos, 8 anos. Levanto de manhã, eu ando, depois vou ver um ou outro doente que está internado. Depois eu vou para o consultório 4 vezes por semana. Eu vou às 2 horas. Hoje eu vou mais tarde por sua causa…

Sebastião: Hoje tem gente atrapalhando…( já arrumando as malas…)

Dr. Landman: É.

Sebastião: a que horas escreve?

Dr. Landman: Escrevo. Escrevo as quartas também. Quartas feiras eu não tenho consultório. Nunca tive.

Sebastião: Às quartas feiras? Por que?

Dr. Landman: Não sei.

Sebastião: E aí o senhor fica no consultório até que hora?

Dr. Landman: Até as 7 mais ou menos. De 2 e meia as 7.Volto para casa. Eu tenho uma vida social até um pouco intensa mas que me cansa um pouco às vezes. É, porque é muito casamento. Muita festa. Tanta coisa!

Sebastião: E o senhor gosta disso? Ou vai contrariado?

Dr. Landman: Gosto. Eu gosto. Vou ao cinema, ao teatro.

Sebastião: E o senhor está bem de saúde?

Dr. Landman: Estou. Acho que relativamente bem, né?

Sebastião: E do ponto de vista político professor, como é que o senhor se situa? Na eleição do Rio de Janeiro, o senhor votou em quem?

Dr. Landman: Pra governador eu tive que votar no César Maia.

Sebastião: Por que teve que votar no César Maia?

Dr. Landman: Porque o outro era o Litle Boy

Sebastião: E pra presidente?

Dr. Landman: Para presidente eu não tinha opção.

Sebastião: Fernando Henrique

Dr. Landman: É, você tinha que votar no Fernando Henrique. Embora a contra gosto mas….

Sebastião: Porque a contra gosto?

Dr. Landman: Não sei. Não tenho 100% de confiança nele ainda não.

Sebastião: Principalmente porque é um professor universitário.

Dr. Landman: Não, nada disso. Eu acho que se o PT tivesse lançado um candidato tipo Cristovão Buarque assim, votaria no PT. Para mudar, mas eu acho que o outro, a situação tá muito ruim nao é?, para você entregar a qualquer um… Acho que está difícil, a situação, votei por votar.

Sebastião: O senhor já pertenceu a algum partido político?

Dr. Landman: Eu já. Eu fui fundador do Partido Socialista em 1945. Partido Socialista. É o atual partido do Miguel Arraes. Fui fundador no Estado do Rio.

Sebastião: O senhor e quem mais na época?

Dr. Landman: Eu, Antônio Carlos Sigmaringa Seixas que está lá em Brasília agora, o Lontra Costa, na época do João Mangabeira, uma porção de outros líderes. João Mangabeira foi candidato nosso a presidência da república. Teve 8 mil votos. Depois o outro foi o Rubem Maciel, lá do Rio Grande do Sul. Quando o partido acabou, acabou…há muitos anos. Acabou antes da ditadura. Fiz comicios junto com Castro Rebelo, com Mangabeira em Friburgo

Sebastião: O senhor citou quando esteve na Rússia. Eu queria só que comentasse: foi a passeio?

Dr. Landman: Não, eu fui convidado. Fui convidado junto com A Zoé Chagas Freitas e alguns líderes lá de esquerda, fui convidado pelo Marighela, mas fica entre nós…

Sebastião: E ficou por lá?

Dr. Landman: Eu era médico do Jacó Gorender que era secretário do Prestes. Na véspera da revolução, o partido comunista estava crente que ia ganhar o poder e o Jacó então me disse: “Doutor Landmann o senhor me diz o que é vai querer que nós vamos dar ao senhor”. Eu disse: “eu quero que você, dois dias antes me avise para eu capinar daqui”. (risos)

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