Obesidade Continua Sem Reconhecimento de Doença na ONU

Obesidade segue sem status de doença na ONU

O debate sobre a obesidade ganhou destaque nas últimas semanas, especialmente em razão da nova Declaração Política sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), que será votada durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa nova declaração está sendo alvo de críticas significativas por não reconhecer a obesidade como uma doença, o que levanta questões sobre as diretrizes de saúde pública e as políticas necessárias para enfrentar esse grave problema global.

Impactos na Saúde Pública

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia recomendado ações para lidar com a obesidade, incluindo o Acceleration Plan to Stop Obesity, que orienta os países a reconhecerem a obesidade como uma doença e a integrarem sua prevenção e tratamento na atenção primária. Além disso, o plano sugere a implementação de políticas que promovam uma alimentação saudável, a tributação de alimentos ultraprocessados e a ampliação do acesso a terapias eficazes para combate à obesidade.

Apesar dessas recomendações, a nova proposta da ONU ignora a obesidade, o que, segundo especialistas, pode ter profundas consequências para a saúde pública. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) alerta que essa falta de reconhecimento pode dificultar a formulação de políticas eficazes e a mobilização de recursos necessários para enfrentar a obesidade em nível global.

Dados Alarmantes sobre a Obesidade

Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com a obesidade, e se não forem tomadas medidas urgentes, o impacto econômico da doença poderá chegar a 3% do PIB global até 2030. No Brasil, a situação é igualmente preocupante: cerca de 68% da população adulta apresenta sobrepeso ou obesidade, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, publicado pela Federação Mundial de Obesidade. Em 2021, mais de 60 mil mortes prematuras no Brasil foram atribuídas a doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso.

A Necessidade de Reconhecimento e Ação

O presidente da Abeso, Fábio Trujilho, enfatiza que a obesidade não pode ser ignorada como um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade. É fundamental que os governos assumam compromissos claros, fundamentados em evidências científicas, para mitigar os impactos da doença e estabelecer políticas de prevenção e tratamento efetivas. O não reconhecimento da obesidade na nova declaração da ONU implica em sua marginalização nas discussões sobre saúde pública, como observa Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso e presidente eleito da Federação Mundial de Obesidade.

Halpern argumenta que, se a obesidade não for reconhecida como uma condição crônica, não haverá soluções adequadas para o problema. Sem uma abordagem que considere a obesidade como uma doença, as políticas de saúde pública correm o risco de negligenciar a gravidade da situação, o que pode levar a resultados desastrosos em termos de saúde populacional.

Propostas para Enfrentar a Obesidade

A Abeso defende a inclusão da obesidade como uma doença crônica e pleiteia o acesso a tratamentos eficazes, como os agonistas de GLP-1, que têm mostrado resultados positivos na redução do peso e na melhoria das comorbidades associadas à obesidade. Além disso, a entidade destaca a importância de integrar a prevenção e o tratamento da obesidade na atenção primária à saúde, garantindo que as pessoas afetadas pela condição sejam ouvidas na formulação de políticas públicas.

A Federação Mundial de Obesidade também alerta que os governos devem cumprir os compromissos já assumidos e adotar ações concretas contra a obesidade. Sem essas iniciativas, será impossível avançar de maneira consistente no combate às DCNTs, que incluem doenças como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, frequentemente associadas à obesidade.

Conclusão

O reconhecimento da obesidade como uma doença pela ONU é crucial para a implementação de políticas de saúde pública que abordem esse desafio de forma eficaz. A falta de reconhecimento não apenas minimiza o problema, mas também impede que sejam alocadas as devidas atenções e recursos necessários para enfrentar essa epidemia global. A mobilização da sociedade civil, juntamente com compromissos claros dos governos, será fundamental para garantir que a obesidade receba a atenção que realmente merece.


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