Primeiro Caso de Trigêmeos Nascidos de Útero Transplantado

Primeiro Caso de Trigêmeos Nascidos de Útero Transplantado no Mundo é Registrado em São Paulo

Um marco histórico na medicina foi alcançado no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, na cidade de São Paulo, onde foi registrado o primeiro caso de trigêmeos nascidos de um útero transplantado no mundo. Este feito inédito é resultado de um transplante realizado entre mulheres vivas e representa um avanço significativo nas técnicas de reprodução assistida e transplante de órgãos.

O Transplante de Útero: Um Avanço Médico

O professor Dani Ejzenberg, supervisor do Centro de Reprodução Humana do HC, compartilha que este caso é um desdobramento do primeiro transplante de útero com doadora falecida, realizado em 2016. O transplante em questão, realizado em 2024, foi feito com uma doadora viva e resultou no nascimento dos trigêmeos em agosto de 2025. A paciente, que nasceu sem útero devido à síndrome de Rokitansky, estava inicialmente inscrita em um programa para doação de útero de uma mulher falecida, mas sua irmã, que já tinha dois filhos, decidiu oferecer seu útero para que ela pudesse gerar seus próprios filhos.

Desafios e Riscos do Procedimento

O transplante de útero é uma técnica relativamente nova e ainda apresenta riscos, incluindo a possibilidade de rejeição do órgão transplantado. O professor Wellington Andraus, coordenador médico da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas, ressalta que, apesar de a rejeição do útero ser menos comum, há relatos de casos em que o órgão foi rejeitado. Contudo, a equipe médica conseguiu controlar esses casos com um regime adequado de medicamentos e imunossupressores, e neste caso específico, não houve complicações.

Anteriormente, a implantação do embrião após o transplante levava cerca de um ano, mas com os avanços na técnica, esse período foi reduzido para apenas seis meses. Isso significa que, após o transplante, os médicos avaliam a cicatrização do útero e a condição do endométrio antes de proceder com a transferência do embrião.

A Transferência do Embrião e a Gravidez

Após o transplante do útero em 2024, a equipe médica monitorou a paciente para identificar possíveis rejeições, o que não ocorreu. Em janeiro de 2025, foi realizada a transferência de um único embrião, uma decisão tomada para evitar a gestação de múltiplos fetos. No entanto, para surpresa da equipe médica, o embrião se dividiu em dois, resultando em uma rara gestação de trigêmeos, com uma chance de 0,04% de ocorrer.

Essa gravidez exigiu monitoramento rigoroso por uma equipe multidisciplinar, incluindo especialistas em obstetrícia e reprodução humana. Os trigêmeos nasceram prematuros, após sete meses de gestação, mas felizmente, todos se desenvolveram bem e já receberam alta médica.

Imunossupressão e Viabilidade da Gestação

Esse caso é notável não apenas pela gestação múltipla, mas também porque a paciente passou por um período mínimo de imunossupressão, de apenas um ano e dois meses, antes do parto. O fato de o útero transplantado ter suportado a gravidez de trigêmeos é um indicativo da viabilidade dessa técnica para futuras gestantes que enfrentam dificuldades para engravidar.

Além disso, os embriões utilizados na gestação estavam congelados desde 2014, o que demonstra a possibilidade de sucesso mesmo após longos períodos de congelamento. Essa pesquisa e prática podem abrir novas portas para muitas mulheres que desejam ter filhos, mas enfrentam desafios significativos.

A Importância do Brasil na Medicina Reprodutiva

A equipe médica destaca a relevância do Brasil como um país pioneiro na realização de transplantes de útero e na promoção de técnicas avançadas de reprodução assistida. A realização desse transplante e o sucesso da gestação colocam o Brasil em uma posição de destaque na medicina reprodutiva global.

Este caso é um testemunho do avanço contínuo na ciência médica e da esperança que ele traz para muitas mulheres que sonham em ser mães, mostrando que, com a tecnologia e a solidariedade, é possível transformar vidas.


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