Tylenol e a Possível Relação com o Autismo: O Que Diz a Pesquisa
Recentemente, autoridades de saúde federais expressaram preocupações sobre a segurança do uso de acetaminofeno durante a gravidez. O acetaminofeno, conhecido popularmente como Tylenol, é amplamente utilizado para tratar febre e dor, sendo considerado o único medicamento seguro para mulheres grávidas. Contudo, mais da metade das gestantes nos Estados Unidos relata seu uso ao menos uma vez durante a gravidez.
No dia 22 de setembro, durante um evento na Casa Branca, o presidente Donald Trump recomendou que as mulheres grávidas evitem o uso de acetaminofeno, a menos que seja absolutamente necessário. Ele afirmou: “Não tome Tylenol. Lute com todas as suas forças para não tomá-lo.” No mesmo dia, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) enviou um comunicado aos médicos, aconselhando as gestantes a utilizarem acetaminofeno apenas para febres altas e anunciou planos de alterar o rótulo de segurança do medicamento, reconhecendo que os estudos existentes não demonstram uma relação de causa e efeito com condições neurológicas.
Pesquisas sobre os Efeitos Neurodesenvolvimentais do Acetaminofeno
A pesquisa sobre o impacto do acetaminofeno no desenvolvimento cerebral das crianças é extensa e complexa, abrangendo duas décadas de estudos. A evidência é mista: algumas pesquisas sugerem uma associação entre o uso do medicamento e o autismo, enquanto outras não encontram essa relação. Importante ressaltar que nenhum estudo conseguiu provar que o acetaminofeno causa autismo.
As organizações médicas profissionais reforçaram suas recomendações de uso do acetaminofeno quando necessário, especialmente para tratar febres maternas, pré-eclâmpsia severa e dor. O não tratamento dessas condições pode resultar em sérias complicações de saúde ou até morte tanto para a mãe quanto para o feto. O Dr. Steven Fleischman, presidente do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), declarou: “As condições que as pessoas usam acetaminofeno para tratar durante a gravidez são muito mais perigosas do que qualquer risco teórico e podem causar morbidade e mortalidade severas para a gestante e o feto.”
Por Que as Autoridades Afirmam que Existe um Risco?
A correlação entre o uso de acetaminofeno durante a gestação e o desenvolvimento cerebral infantil nunca foi testada em ensaios clínicos, uma vez que seria antiético privar as gestantes de um medicamento seguro em um experimento, especialmente quando não existem alternativas seguras. Isso leva os cientistas a basearem suas conclusões em evidências observacionais e estudos com animais.
O anúncio da Casa Branca foi motivado por um artigo de pesquisa publicado em agosto que revisou 46 estudos sobre o uso de acetaminofeno durante a gravidez, sendo oito deles focados na relação entre o medicamento e o autismo. Os autores do artigo afirmaram que, coletivamente, os estudos indicam que “uma relação causal é plausível” entre o uso de acetaminofeno durante a gestação e o aumento do risco de autismo. Ann Bauer, epidemiologista da Universidade de Massachusetts e co-autora do estudo, afirmou que a pesquisa não é conclusiva, mas que o uso de acetaminofeno por quatro semanas ou mais parece aumentar o risco de autismo.
Estudos e Considerações Adicionais
Embora a pesquisa sugira que o uso ocasional de acetaminofeno durante a gravidez não seja prejudicial, os profissionais de saúde recomendam que as gestantes usem o medicamento apenas quando necessário. É importante consultar um médico ou farmacêutico antes de usar o medicamento a longo prazo e utilizar a menor dose eficaz pelo menor tempo possível.
Uma pesquisa de 2025, que utilizou testes de biomarcadores, buscou identificar a relação entre a quantidade de acetaminofeno no sangue materno e o risco de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), outra condição neurodesenvolvimental. O estudo encontrou que o risco relativo de TDAH era cerca de três vezes maior entre aquelas que usaram acetaminofeno em maior quantidade. Fatores como a saúde da mãe, o peso e a saúde do bebê, bem como outras exposições ambientais, também podem influenciar os resultados dos estudos sobre os efeitos do acetaminofeno.
Evidência Conflitante e Incompleta
A ACOG criticou a revisão publicada em agosto por se basear em evidências de baixa qualidade. “Nenhum estudo respeitável conseguiu concluir que o uso de acetaminofeno em qualquer trimestre da gravidez causa transtornos neurodesenvolvimentais em crianças,” afirmou a ACOG. A organização destacou um grande estudo realizado na Suécia em 2024, que analisou as taxas de autismo entre irmãos e não encontrou diferenças significativas em casos onde as mães usaram acetaminofeno em uma gravidez, mas não em outra. O autismo é uma condição hereditária, e estudos sugerem que fatores ambientais, como poluição e exposição a pesticidas, podem desempenhar um papel, mas a genética é um fator determinante.
Uma grande revisão de evidências publicada em fevereiro concluiu que a maioria dos estudos que reportaram resultados positivos “são difíceis de interpretar devido a importantes vieses.” Os autores afirmam que ainda não há evidências suficientes para alterar as recomendações clínicas e pedem por mais estudos prospectivos a fim de entender melhor se o acetaminofeno impacta o neurodesenvolvimento.
Considerações Finais sobre o Uso de Acetaminofeno na Gravidez
O comunicado da FDA sugere que “os clínicos devem considerar minimizar o uso de acetaminofeno durante a gravidez para febres baixas de rotina.” Grupos de medicina materno-fetal já recomendam que as gestantes utilizem o medicamento com moderação ou pelo menor tempo possível quando necessário e consultem um médico antes do uso. É fundamental que as gestantes se certifiquem de que estão utilizando o acetaminofeno apenas quando realmente necessário.
O uso de acetaminofeno é mais eficaz na redução da febre e no tratamento de dores leves a moderadas que não envolvem inflamação. Estudos clínicos demonstraram que o medicamento é ineficaz no tratamento de dores nas costas e condições de dor crônica. Especialistas alertam que é possível que muitas pessoas estejam usando o medicamento para condições em que ele não oferece alívio, o que não deve ocorrer se houver qualquer possibilidade de que ele possa ter um efeito causal no neurodesenvolvimento adverso.
O caminho ideal não é proibir o acetaminofeno, mas sim orientar as mulheres a evitarem seu uso para dores menores, como uma leve dor de cabeça. A sociedade atual tende a recorrer rapidamente a medicamentos para qualquer desconforto, e essa abordagem deve ser reavaliada.
Com a crescente preocupação sobre a saúde do desenvolvimento infantil, é essencial que as gestantes recebam informações claras e baseadas em evidências sobre o uso de medicamentos, permitindo-lhes tomar decisões informadas sobre o cuidado de sua saúde e de seus bebês.
Observação Importante: As informações aqui apresentadas não substituem a avaliação ou o acompanhamento profissional. Sempre consulte um médico ou especialista em saúde para orientações personalizadas.